Doenças já abordadas neste blogue

A Veterinária Mistério sabe que anda por aí muito boa gente que lê os meus textos e chega a uma palavra mais complicada e vê-se obrigada a recorrer ao velho amigo Dr. Google, esses tempos negros acabaram!

Nesta parte do blogue vou explicar, de forma descomplicada, como já é costume, as doenças e nomes esquisitos que já apareceram por aqui (ordenados alfabeticamente, só para facilitar a vida ao caro leitor). Após cada nome estará entre parêntesis um C (= cão), um G (= gato), um O (= outro) ou uma combinação destes de modo a representar as espécies que estas doenças maioritariamente afectam.

Poderá haver uma ou outra maleita que, com o tempo, mereça o seu destaque numa publicação só para ela, mas por enquanto, contentemo-nos com isto.


* - A - *

Alergias (C + G): tal como nos humanos, as alergias em animais podem ser causadas por uma variedade de coisas (comida, pó, pólen, medicamentos...). A maneira como elas se apresentam é que, muitas vezes pode ser diferente quando comparado connosco.
  • Sinais clínicos: diarreia, otites frequentes, queda de pêlo, comichão, zonas da pele avermelhadas que com o tempo vão escurecendo, feridas causadas por lambidelas...
  • Pega-se? Claro que não.
  • Como é que se diagnostica? Depois de excluir uma data de coisas que podem causar sinais semelhantes, o vet pode pedir uma amostra de sangue para identificar alergenos ou pode optar por fazer uma dieta durante, pelo menos 3 meses, de modo a excluir alergias alimentares.
  • Pode matar? Parece pouco provável.
  • Há vacina? Dependendo do que está a causar a alergia poderá ser possível criar vacinas específicas a esse alergeno. Contudo é uma terapia demorada, cerca de 6 a 9 meses para começar a notar-se os efeitos no animal.
  • Há tratamento? Depende, as vacinas ainda agora descritas podem ser uma excelente maneira de diminuir os sinais do animal. Contudo, se for, por exemplo, uma alergia alimentar, o animal terá que fazer uma dieta hipoalergénica (cara) para o resto da vida. Todavia, o tratamento para as alergias é, quase sempre, uma mistura de medicamentos que deixa muitos donos, até, cheios de comichões.
  • Há cura? Não.



Arritmias cardíacas (C + G + O): como toda a gente sabe, é quando o coração deixa de bater de forma rítmica e certinha, passando a bater ao som de dubstep de má qualidade.
  • Sinais clínicos: o animal pode desmaiar ou até mesmo morrer subitamente, como pode não ter quaisquer sinais clínicos e viver uma vida despreocupada sem que ninguém saiba o que realmente se passa.
  • Como é que se diagnostica? Auscultando, fazendo um ECG (convém que se saiba interpretá-lo correctamente) e pode ainda fazer-se um Holter (ECG de longa duração).
  • Pode matar? Dependendo do grau de arritmia, sem dúvida.
  • Há vacina? Era bom era...
  • Há tratamento?  Sim e bastante vasto. Dependendo da espécie e do que causa a arritmia o tratamento pode passar apenas por anti-arrítmicos ou pelo tratamento da doença subjacente que está a causar a arritmia (ex.: outros problemas cardíacos, alterações hormonais...). Atenção que nem todas as arritmias precisam de tratamento (o Holter deve ser por isso feito, de modo a determinar a frequência da arritmia).
  • Há cura? Se a arritmia for um efeito secundário de uma outra doença, tratando a doença, trata-se a arritmia. Se a arritmia for "congénita" (= nasce com o animal), geralmente é necessária medicação para toda a vida.

* - C - *

Calicivírus (G): resumindo, é um tipo de constipação que dá principalmente em gatos bebés. Não costuma ser grave se tratado atempadamente (há certos tipos mais graves que outros) :
  • Sinais clínicos: normalmente dá tosse, espirros, corrimento nasal, feridas na boca, conjuntivite, febre... Alguns tipos deste vírus só dão feridas (úlceras) na boca, outros só têm um sinal clínico: morte (mas são raros)!
  • Pega-se? Sim, muito, por contacto directo, apenas entre gatos.
  • Como é que se diagnostica? Basta olhar para o gato.
  • Pode matar? Sim, se não for tratada
  • Há vacina? Sim, dada entre as 6 e as 8 semanas de idade.
  • Há tratamento? Sim, tratamento apenas para os sintomas: antibióticos, anti-inflamatórios não esteróides*, gotas para os olhos, nutrição com alto teor em energia, suplementos imunitários). O tratamento é focado em reforçar a imunidade do animal de modo a que este trate da infecção por si próprio.
  • Tem cura? Não. Os sintomas podem desaparecer mas o animal torna-se portador assintomático do vírus para sempre, podendo, em momentos de debilidade imunitária, surgir novamente.
* POR FAVOR NÃO SE PONHAM A DAR BEN-U-RON OU ASPIRINA AO GATO! 
Há maneiras mais dignas de se matar um animal


Úlceras na boca provocadas por calicivírus.

Cardiomiopatia dilatada (C): apesar de também poder ocorrer em gatos, é bem menos comum, ou então um resultado de uma outra doença cardíaca que já se anda a prolongar por muito tempo. Sucintamente é quando o coração aumenta o tamanho das suas câmaras e, consequentemente, as suas paredes se tornam mais finas, tornando difícil a expulsão eficiente do sangue, sendo bem mais comum em raças de cães grandes:
  • Sinais clínicos: desmaio, tosse, "barriga de água", dificuldade em respirar, intolerância ao exercício...
  • Como é que se diagnostica? O diagnóstico definitivo é através da ecocardiografia, se bem que a radiografia torácica possa também indicar o rumo de diagnóstico a seguir.
  • Pode matar? Depende do estadio em que é diagnosticado mas com o evoluir da doença, certamente.
  • Há tratamento? O tratamento é crónico e ajustado consoante as reavaliações (anuais ou bianuais). Passa principalmente por medicamentos que vão ajudar o coração a contrair mais, a diminuir a frequência com que bate, a diminuir a quantidade de líquido que tem de bombear e a aumentar o tamanho dos vasos sanguíneos para que seja mais fácil passar o sangue.
  • Há cura? Não.
Diferença ente um coração normal (à esquerda) e um coração dilatado (à direita).
A prova de que ter um grande coração nem sempre traz vantagens.

Cataratas (C + G): resumidamente é quando a lente do olho fica opaca, costumam ser hereditárias no cão e resultante de um processo natural de envelhecimento no gato.
  • Sinais clínicos: o animal parece desorientado, surgimento de uma mancha branca num ou em ambos os olhos.
  • Como é que se diagnostica? Por um exame oftalmológico completo.
  • Há tratamento/cura? A única abordagem é a cirúrgica, tendo taxas de sucesso bastante elevadas, mesmo quando efectuadas em animais mais velhos.
Aspecto de uma catarata... quando já é um bocado tarde...

Colapso traqueal (C): doença muito comum em cães pequenos ou braquicéfalos (focinho achatado),  o que acontece é que os anéis que formam a traqueia vão perdendo força e colapsam de tal modo que a traqueia fica obstruída.
  • Sinais clínicos: parece óbvio... falta de ar, engasgos, sensação que vão cuspir alguma coisa...
  • Como é que se diagnostica? A radiografia ajuda a perceber onde é o estreitamento.
  • Pode matar? Se o estreitamento for grave, pode.
  • Há tratamento/cura? Há tratamento com recurso a medicação e com recurso a cirurgia. Muitas vezes fazer dieta nos animais obesos é suficiente para os sinais diminuirem significativamente. Usar peitorais em vez de coleiras também ajuda por razões óbvias, assim como limitar o exercício físico e a excitação. A opção entre o tratamento médico e o cirúrgico vai depender do grau de colapso e da resposta ao tratamento previamente instituído.
Isto é uma traqueia colapsada... e bem!

Conjuntivite (C + G + O): comum em cães e gatos, mas por razões diferentes. Geralmente o gato ganha conjuntivite devido a infecções virais, quando a sua imunidade está em baixo. O cão, poderá ganhá-las por razões bem mais variadas: as pestanas roçarem na córnea devido à conformação da raça, alergias, brincadeiras no parque, ir à janela nos carros...
  • Sinais clínicos: olho vermelho, coçar o olho; poderá ainda aparecer um "cherry eye" caso seja a terceira pálpebra inflamada (nos cães é comum surgir uma pequena massa avermelhada no canto do olho) 
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? O veterinária fará alguns exame oftálmicos de modo a confirmar o diagnóstico.
  • Há tratamento? Sim, se for por causa da conformação das pálpebras ou se for o caso do cherry eye, o tratamento é cirúrgico. Para todas as outras conjuntivites o tratamento é médico, através de gotas para os olhos.
  • Há cura? Sim.
Yep, está na hora de ir ao veterinário

Criptorquidismo (C): é o nome pomposo que se dá aos machos cujos testículos (um ou ambos) não desceram para o saco escrotal até aos 6 meses de vida.
  • Sinais clínicos: geralmente não dá sinais, a não ser infertilidade ou surgimento a longo prazo de tumores no(s) testículo(s) retido(s).
  • Pode matar? Diversos estudos relacionam os testículos retidos como possíveis focos de tumores a longo prazo (sertolinoma principalmente), por isso podemos dizer que sim.
  • Como é que se diagnostica? Por palpação do escroto e com recurso à ecografia para encontrar o local exacto onde o testículo se encontra.
  • Há tratamento/cura? Sim, unicamente cirúrgica.
Desapontados?


* - D - *

Diabetes (C + G): doença cada vez mais comum em cães e gatos, mas muitas vezes de origem distintas em cada espécie. No cão, pode ocorrer a "diabetes tipo I", ou seja, aquela que costuma ser hereditária e dependente de insulina, mas também cada vez mais a tipo II que, assim como nos gatos, é aquela que aparece nas pessoas com alimentações pouco aconselháveis. Pois é, também os gatos as comem (se lhas derem), e o facto de passarem o dia todo a dormir com certeza não ajudará:
  • Sinais clínicos: semelhantes em ambas as espécies no caso da tipo II, sede incontrolável, consequentemente urina em excesso, aumento exagerado do apetite associado a perda de peso. Em estados mais avançados pode dar fraqueza muscular em gatos (onde eles muitas vezes colocam a pata toda assente no chão) e cegueira em cães. No caso da diabetes tipo I (mais comum em cães jovens) os cachorros têm dificuldades de desenvolvimento.
  • Pode matar? Em estados mais avançados pode conduzir a descompensação do organismo, levando à morte.
  • Como é que se diagnostica? Uma teste rápido à urina e ao sangue indicarão a presença (ou ausência) de açúcar.
  • Há tratamento? Sim. Basicamente os animais diabéticos levam com injecções de insulina para o resto da vida.
  • Há cura? Não, a não ser as diabetes transitórias provocadas pelo cio nas cadelas, obesidade em cães e/ou gatos ou tratamentos com anti-inflamatórios corticoesteróides.
Um gato diabético pode andar com as patas traseiras como a figura à direita (à esquerda, um gato normal).


Dirofilariose (C): doença maioritariamente canina (mas também já relatada em gatos), transmitida por um mosquito que possui no seu interior um parasita, que irá crescer no coração e pulmões dos nossos cães, tipo massa aletria. Mais comum em Portugal nas zonas de Coimbra, Alentejo, Algarve e Madeira:
  • Sinais clínicos: muitas vezes passa despercebida, dando sinais só quando o coração já se encontra recheado desta aletria natalícia (colapso, dificuldades respiratórias, tosse, intolerância ao exercício, "barriga de água", morte súbita...).
  • Pega-se? Entre cães não, mas o mosquito que picou um poderá muito bem picar outro.
  • Como é que se diagnostica? A melhor maneira é através de análises ao sangue mas a radiografia torácica e/ou ecocardiografia também podem guiar no diagnóstico.
  • Pode matar? Sem dúvida.
  • Há vacina? Não, mas há outras maneiras de prevenir (comprimidos desparasitantes ou pipetas), deve-se sempre, antes de iniciar qualquer tipo de prevenção para a dirofilariose (e 6 meses depois de se começar), testar se o animal já não está infectado. Porquê? Porque se estiver, ao matar os parasitas com estes desparasitantes criam-se "rolhas" de vermes no coração (ou seja, é pior a emenda que o soneto).
  • Há tratamento/cura? Dependendo do estado em que a doença está, pode ser recomendado um tratamento sintomatológico (oxigénio, corticosteróides, broncodilatadores, fluídos...) e um tratamento que mate os parasitas em conjungação com um tipo específico de antibiótico assim como repouso absoluto. Todavia, estes tratamentos, para além de dolorosos e morosos (3 meses), põem em risco a vida do animal e devem ser ponderados tendo em conta o estado de saúde deste. Em alguns casos, contudo, a cirurgia é a única opção, que, por ser muito delicada e perigosa, é aconselhada apenas quando o animal está em colapso cardíaco.
Como sei que adoram imagens nojentas aqui vai uma para vos assombrar durante o resto do dia
(parasitas de Dirofilaria num coração cortado ao alto).


Displasia da anca (C): doença maioritariamente hereditária mais comum em cães grandes. Ocorre porque o osso da anca não está bem formado o suficiente para alojar a cabeça do fémur.
  • Sinais clínicos: dificuldade em andar, sentar ou levantar-se e coxear após exercício, dor na região da anca, ou nenhum sinal clínico de todo.
  • Como é que se diagnostica? Radiografia especial à anca, de preferência quando o animal ainda é jovem.
  • Pode matar? Não, mas deve doer bastante.
  • Há vacina? Não, mas a melhor forma de prevenir é não reproduzir animais que tenham esta doença, visto ser genética.
  • Há tratamento/cura? Dependendo da idade em que é diagnostica, e do grau de gravidade, o tratamento pode ser apenas médico ou cirúrgico, com substituição total da anca ou remoção da cabeça do fémur. A diminuição de peso e uma dieta controlada quando diagnosticada em cachorro devem também ser tidas em consideração, bem como tratamentos de suporte como a hidroterapia e a acupunctura.
Comparação de alguns graus de gravidade de displasia da anca.

Displasia do cotovelo (C): quando os ossos da articulação do cotovelo não se unem correctamente nos primeiros meses de vida, estando também associado a um componente genético, mais comum em cães grandes.
  • Sinais clínicos: coxear dos membros da frente, dor ao flexionar a articulação e desvio das patas para dentro.
  • Como é que se diagnostica? Radiografia.
  • Há tratamento/cura? Tal como na displasia da anca, quanto mais cedo for feito o diagnóstico melhor é o prognóstico. O tratamento pode ser, mais uma vez, feito por meio de medicação apenas ou através de cirurgia, dependendo da idade do animal e estado da doença. Assim como a displasia da anca, acupunctura, hidromassagem, controlo de peso e alimentação balanceada são aconselhados.
À direita, pés convergentes pode ser um sinal indicador de displasia do cotovelo.

Displasia da retina (C + G + O): anomalias na conformação da retina (tecido que cobre o fundo do olho), geralmente hereditário, mas também podem ser consequência de trauma ou infecções virais. Podem ser graves ou benignas:

  • Sinais clínicos: pode não dar nenhum, como pode causar desorientação do animal, relutância deste em entrar em locais escuros...
  • Como é que se diagnostica? Através de um exame oftalmológico completo.
  • Pode matar? Não, mas pode levar à cegueira.
  • Há tratamento/cura? Não, mas como a doença não tende a progredir, uma vez diagnosticada não se desenvolverá com o tempo. O animal terá que viver com a visão que lhe resta para o resto da sua vida.
Nop, óculos não resultam para esta doença.

Displasia da válvula mitral (C): doença degenerativa, onde há um defeito da válvula que faz a passagem do sangue entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo; ocorre principalmente em cães pequenos e velhotes:
  • Sinais clínicos: durante os primeiros tempos a doença não dará sinais clínicos. Com o tempo poderão desenvolver-se alterações cardíacas resultantes do defeito da válvula que se poderão traduzir em intolerância ao exercício, tosse, desmaios, respiração acelerada a dormir...
  • Como é que se diagnostica? À auscultação o vet irá muito provavelmente ouvir um sopro que lhe indicará que é hora de fazer uma ecocardiografia.
  • Pode matar? Sim, com o evoluir da doença.
  • Há tratamento? O tratamento é tentar retardar a progressão da doença com medicação cardíaca para sempre, fazendo ajustes consoante as alterações que vão surgindo. Ainda não existe substituição de válvulas para os cães como há para os humanos (só a título experimental).
  • Há cura? Não. 
Localização da válvula mitral no coração e o seu aspecto quando se encontra displásica.


* - E - *

Epilepsia (C + G + O): pode ter diversas origens (tumores, doenças renais, hepáticas, ou simplesmente não se encontrar razão aparente).
  • Sinais clínicos: convulsões onde o animal pode ou não perder a consciência, associadas a perdas involuntárias de urina, fezes e espumar da boca.
  • Como é que se diagnostica? Através do relato dos donos, de preferência filmando as crises para mais tarde mostrar ao veterinário, é a única maneira que temos de diagnosticar, pois muitas vezes ocorrem em casa e não no consultório.
  • Pode matar? Depende muito da causa subjacente à convulsão e se o animal está ou não num local seguro quando ocorrem as crises (é ainda possível engasgar-se com a própria saliva).
  • Há tratamento/cura? Mais uma vez, depende do que está a causar a epilepsia. O tratamento correcto, nas fases precoces da doença, pode espaçar as crises ou até mesmo extingui-las por completo, mas é um tratamento para o resto da vida e deve ser gerido de acordo com a resposta do animal. Evitar grandes estímulos que provoquem excitação no animal também é recomendado. Todos os donos ficam desesperados quando vêem o seu animal a pedalar ou a contorcer-se no chão, mas a triste realidade é que não há nada que possam fazer, a não ser evitar que se magoe nos objectos em seu redor e tentar colocá-lo numa posição lateral para que a saliva não cause engasgos. Por muito cruel que pareça, o melhor que um dono tem a fazer quando vê o seu cão/gato a convulsionar é gravar um vídeo com o telemóvel para mais tarde mostrar ao veterinário.
Provavelmente está a ter uma convulsão... Os cães gostam mais de música clássica.


Esgana (C): doença viral que afecta praticamente apenas os cães bebés, com diversas estirpes e mutações, o que pode causar, ocasionalmente, surgimento de novas epidemias locais:
  • Sinais clínicos: uma miscelânia de sinais, começando normalmente nos gastrointestinais (vómito e diarreia) e respiratórios (tosse, dificuldade em respirar), passando para os nervosos (convulsões, paralisia) um tempo depois. Às vezes é possível saltar um destes grupos de sintomas, dependendo da estirpe.
  • Pega-se? Muito, entre cães não vacinados para aquela estirpe.
  • Como é que se diagnostica? Análises ao sangue.
  • Pode matar? E de que maneira! Apenas 23% sobrevive a primeira fase de infecção.
  • Há vacina? Certamente, se bem que nem todas estejam actualizadas com todos os tipos de vírus existentes actualmente, o seu veterinário saberá aconselhá-lo para qual a melhor opção vacinal (esperemos).
  • Há tratamento/cura? Haver há, tratamento sintomático, mais uma vez. Costuma resultar? Nem por isso... Contudo, algures na net existe um relato de um veterinário americano que usa, há já várias décadas, soro canino imunizado para a Doença de Newcastle (uma doença de aves) no tratamento da esgana nos primeiros 6 dias de aparecimento dos sintomas, com taxas de sucesso a ultrapassar os 80%. Como é que não ensinam isto nas faculdades?
Um pobre coitado com esgana.

* - F - *

Fístula peri-anal (C + G): os cães e gatos possuem, ao lado do ânus, uma glândula peri-anal de cada lado. Quando a secreção produzido por estas glândulas não consegue ser expelido pelos canais, por obstrução, vai inflamando e abrindo caminho até ao exterior através da pele, formando-se uma ferida junto ao ânus que pode libertar pus, sangue ou uma mistura dos dois.
  • Sinais clínicos: dor na região do ânus, fezes com sangue ou dificuldade em defecar, arrastar o traseiro pelo chão, lamber a região afectada...
  • Pega-se? Não.
  • Como se diagnostica? Exame visual.
  • Pode matar? Não.
  • Há tratamento/cura? O tratamento vai depender da gravidade em que se encontra a fístula. Pode passar apenas por limpeza e desinfecção da ferida como pode ser necessária alguma medicação oral (antibióticos e/ou antifúngicos). É, contudo, uma doença que, uma vez tratada, tende a voltar, podendo ser prevenida com visitar regulares ao vet para apertar as glândulas peri-anais.
Fístula peri-anal à esquerda e ânus à direita.


* - G - *

Glaucoma (C + G + O): ocorre quando a pressão do olho aumenta. Em cães pode muitas vezes estar relacionado com a conformação da raça, enquanto que em gatos as causas estão mais ligadas a trauma, inflamações ou tumores.

  • Sinais clínicos: olho aumentado de tamanho (parece que vai sair da órbita), dor na região ocular, vermelhidão da parte branca do olho e, eventualmente, perda de visão.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Através de um exame oftálmico completo.
  • Pode matar? Não, mas trata-se de uma urgência oftálmica. Na pior das hipóteses ficará cego.
  • Há tratamento? O tratamento passa por tentar diminuir a dor sentida pelo paciente e regularizar a pressão dentro do olho com recurso a gotas, mas não previne o avançar da doença.
  • Há cura? Em último caso os olhos afectados são removidos e, apesar de nos parecer estranho, o animal vive com qualidade de vida.
É mais ou menos assim que os animais com glaucoma chegam ao veterinário.


* - H - *
Hemofilia (C + G): deficiência na coagulação do sangue, geralmente hereditário e mais comum em cães do que em gatos. Causado pela falta de certos factores de coagulação:

  • Sinais clínicos: sangramento das gengivas (quando caem os dentes de leite em animais jovens), sangramento excessivo do cordão umbilical aquando do nascimento. Obviamente leves traumatismos causam igualmente sangramento anormal, assim como possíveis hemorragias espontâneas.
  • Pega-se? A transmissão costuma ser hereditária (de pais para filhos).
  • Como é que se diagnostica? Através de testes de coagulação e análises sanguíneas.
  • Pode matar? Sem dúvida, se não for seguida de perto.
  • Há tratamento? O tratamento é com base em transfusões sanguíneas e transfusões de factores dos coagulação em falta.
  • Há cura? Não.

E não só...


Hepatite infecciosa canina (C): doença viral, mais comum em animais jovens, que afecta o fígado dos cães:
  • Sinais clínicos: podem variar passando por dor abdominal, vómitos, diarreia (com sangue), convulsões, sede, icterícia (mucosas amarelas), parte branca do olho torna-se azulada, problemas de coagulação ou mesmo morte pouco depois do aparecimento dos primeiros sintomas (depende do tipo de vírus e da imunidade do animal);
  • Pega-se? Sim, por contacto directo entre cães não vacinados.
  • Como é que se diagnostica? Análises sanguíneas e/ou biópsia hepática
  • Pode matar? Dependendo da severidade do vírus, sim.
  • Há vacina? Há, dada a partir das 6 a 8 semanas de idade.
  • Há tratamento? O tratamento é sintomático: fluídos, nutrição adequada (limitar proteína se o animal estiver com sintomas neurológicos), suplementos hepáticos...
  • Há cura? Depois do tratamento e da cura clínica (ausência de sintomas), o animal poderá continuar a excretar o vírus nas suas fezes durante muitos meses, por isso é de extrema importância que se retire os dejectos do animal da via pública, de modo a evitar mais contaminações.
Para o caso de restarem dúvidas sobre o que é a icterícia.


Herpesvirus felino (G): como o calicivirus, causa "constipação" em gatos bebés, sendo um pouco mais difícil de tratar e dando sinais clínicos um pouco mais graves: 
  • Sinais clínicos: espirros, secreções nasais e oculares, febre e úlceras na córnea que, se não forem tratadas podem levar à cegueira.
  • Pega-se? Sim, imenso por contacto directo entre gatinhos.
  • Como é que se diagnostica? Como o calicivirus, basta olhar.
  • Pode matar? Em casos não tratados sim, pois pode causar desidratação e pneumonia.
  • Há vacina? Sim, dada a partir das 6 a 8 semanas de idade.
  • Há tratamento? O tratamento é paliativo e igual ao do calicivirus, por isso não é assim tão importante a distinção entre estes dois vírus.
  • Há cura? Assim como o calicivirus, a maioria destes animais fica portador assintomático, podendo, em alturas de maior stress, surgir novos sintomas.
Típico aspecto de um gatinho com herpesvírus.


Hiperadrenocorticismo (C + G): quando a glândula supra-renal produz mais cortisona do que devia, afectando muito mais cães do que gatos. Geralmente (80%) devido a um tumor benigno no cérebro que manda esta glândula produzir hormonas em excesso.

  • Sinais clínicos: sede, fome, aumento da frequência urinária, aumento do peso (com distribuição da gordura no abdómen), problemas de pele e queda de pêlo.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Análises sanguíneas poderão sugerir que se trata desta doença, contudo, uma injecção de uma hormona específica e avaliação da reacção do animal darão o diagnóstico definitivo.
  • Pode matar? Se não for controlado, existe essa possibilidade.
  • Há tratamento? Sim, geralmente a medicação é oral.
  • Há cura? Não.
Aspecto tímico de um cão com hiperadrenocosticismo.

Hipotiroidismo (C): ocorre apenas em cães, onde a tiróide (glândula que controla o metabolismo) secreta menos hormonas do que o devido.

  • Sinais clínicos: letargia, aumento de peso, diminuição do apetite, problemas de pele, queda de pêlo e diminuição do ritmo cardíaco.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Análises sanguíneas à hormona em falta.
  • Pode matar? Em casos extremos, sem qualquer tipo de tratamento, certamente diminuirá muito a qualidade de vida do animal.
  • Há tratamento? Sim, medicação oral para o resto da vida.
  • Há cura? Não.
E depois também há estes casos...

* - I - *

IBD (Inflamatory Bowel Disease) (C + G): esta dava muito pano para mangas, mas basicamente trata-se de uma condição de origem desconhecida, que provoca inflamação crónica nos intestinos.

  • Sinais clínicos: perda de apetite, diarreia, vómitos, perda de peso. Muitas vezes a consistência das fezes está afectada (mais moles, mais mucosas, com sangue...).
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? A história clínica ajuda, mas o diagnóstico definitivo é feito por biópsia (por colonoscopia) e depois de se excluir tudo o resto que possa causar os mesmos sintomas.
  • Pode matar? Geralmente não, remotamente, em casos muito graves, se o animal deixar totalmente de comer e perder muito sangue... mas é remoto...
  • Há tratamento? Dietas hipoalergénicas em combinação com medicações orais para diminuir a reacção do sistema imunitário, antibióticos, pró-bióticos...
  • Há cura? Não. 
Nem todas as entranhas são de confiança...

Insuficiência pancreática exócrina (C): praticamente só ocorre em cães e caracteriza-se pela atrofia das células do pâncreas, mais comum em Pastores Alemães.

  • Sinais clínicos: aumento do apetite, perda de peso e diarreia.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Através de análises sanguíneas a uma enzima pancreática. Se os resultados derem ligeiramente acima da média, o exame deve ser repetido passados 4 a 12 meses.
  • Pode matar? Se for tratado não.
  • Há tratamento? Dietas baixas em calorias e medicação oral com as enzimas que estão em falta são, geralmente, suficientes para tratar os sintomas.
  • Há cura? Não.
Whyyyyy?


* - L - *

Leishmaniose (C): doença parasitária muito comum no sul da Europa, transmitida por um mosquito e que se divide em diversos tipos, consoante os órgãos que afecta. Só populações humanas em regiões sub-desenvolvidas ou pessoas imunodeficientes é que estão em risco de apanhar a doença, também através do mosquito. Há igualmente relatos pontuais de gatos infectados:
  • Sinais clínicos: crescimento exagerado das unhas, descamação da pele, emagrecimento, atrofia muscular, e outros relacionados com o fígado e rins. Os sintomas variam muito e podem apenas se manifestar anos depois do animal ter sido infectado.
  • Pega-se? Geralmente não, a transmissão é maioritariamente feita pelo insecto.
  • Como é que se diagnostica? Punção de linfonodos, fígado, baço, medula e análises sanguíneas.
  • Pode matar? Depende muito do tipo de leishmaniose que o animal possui mas, a longo prazo, os órgãos como os rins e fígado podem vir a falhar, o que resulta numa morte lenta se não for controlada.
  • Há vacina? Há vacina para prevenir e agora até há uma vacina para ser administrada em animais infectados e que promete diminuir a severidade dos sintomas (não cura). Mesmo vacinados, os animais saudáveis devem ainda realizar prevenção com recurso a coleiras, pipetas e/ou xaropes pois a vacina não protege todos os animais. Os animais infectados devem igualmente seguir este sistema para prevenir a infecção de mais mosquitos que poderão espalhar a doença.
  • Há tratamento? Há. Dependendo do estadio da doença poderá optar-se por diferentes tipos de protocolos, devendo ainda esterilizar as fêmeas infectadas visto que o cio diminui a resposta imunitária. Actualmente o fármaco ideal para o tratamento da leishmaniose é o miltefosina que, apesar de caro (100€ a 200€), é dado em forma líquida durante um mês e, se tudo correr bem, a contagem dos parasitas diminui para valores quase sub-clínicos. 
  • Há cura? Não, apesar de controlada, pode sempre recidivar e por isso é aconselhado o controlo bianual.
Este pobre coitado grita leishmaniose por todos os poros.

Leptospirose (C + O): doença bacteriana transmitida pela urina de ratos infectados (ou outros animais), mais comum após grandes chuvadas, onde a água contaminada pela urina se espalha pelas ruas e lá vai o caozinho cheirar ou beber essas poças. Dependendo do tipo de bactéria, pode ter diferentes sinais:

  • Sinais clínicos: pode não dar nenhum, como pode dar icterícia (mucosas amarelas), vómitos, diarreia, rigidez muscular, febre, protração, sede, problemas de coagulação...
  • Pega-se? Sim, através da urina de animais infectados, pode inclusivamente um cão infectado contaminar uma pessoa.
  • Como é que se diagnostica? Análises sanguíneas e à urina.
  • Pode matar? Dependendo do tipo de bactéria e da imunidade do animal, sim.
  • Há vacina? Sim, entre as 8 e as 12 semanas.
  • Há tratamento/cura? Como se trata de uma bactéria, felizmente, temos antibióticos eficazes e com boas taxas de sobrevivência (especialmente a doxiciclina, que demonstrou aqui ser a mais eficaz em evitar que o animal se torne portador assintomático).
É assim que depois as coisas acontecem...

Leucemia felina ou FeLV (G): ao contrário da leucemia humana (causada por alteração tumorais nas células da medula) é uma doença transmitida por um vírus que afecta o sistema imunitário do gato que causa, com o tempo, surgimento de tumores. Estima-se que cerca de 5 a 10% dos gatos em Lisboa estejam infectados (não é assim tanto afinal).
  • Sinais clínicos: aparecimento de outras doenças (problemas respiratórios, feridas na boca, tumores variados, principalmente linfoma).
  • Pega-se? Sim, entre gatos infectados, através da saliva, sangue, urina, leite... Bastando uma luta de rua com um gato infectado para a doença ser transmitida, por exemplo.
  • Como é que se diagnostica? Análises sanguíneas.
  • Pode matar? Porque diminui a imunidade do gato (dando origem a doenças secundárias) e por ser uma doença que promove o crescimento de tumores, sim.
  • Há vacina? Há, mas geralmente não é recomendada a não ser que seja um gato de risco pois ela própria pode levar ao surgimento de tumores na zona da picada.
  • Há tratamento? O tratamento será direccionado para as doenças secundárias que forem surgindo e tendo especial cuidado para evitar o contacto com outros gatos saudáveis. É ainda recomendada a esterilização/castração para evitar que o sistema imunitário do animal se altere em épocas reprodutivas. Pode, ainda, tentar administrar-se tratamentos antivirais mas que, para além de dispendiosos, podem causar problemas de toxicidade.
  • Há cura? Não. Geralmente, depois do diagnóstico, os gatos infectados podem viver por mais três anos, sendo que 20% ultrapassa este número. Visitas regulares ao veterinário (duas vezes ao ano) são indispensáveis para se detectar atempadamente qualquer alteração no estado de saúde do animal.
É tudo um mar de rosas até ele te dar FeLV.


Luxação da patela (C + G): mais comum em cães pequenos e geralmente associado a factores genéticos nesta espécie. A luxação da patela (= rótula) acontece quando esta, ao fazer-se determinado exercício, sai do sítio:

  • Sinais clínicos: coxear intermitente de uma ou ambas as patas traseiras (mais associado ao exercício), o animal pode esticar a pata de trás quando anda, dificuldade em saltar ou ainda alguma dor, se mais avançado.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Através de um exame ortopédico completo e radiografias aos membros.
  • Pode matar? Não.
  • Há tratamento/cura? Dependendo da fase da doença, poderá ser recomendado apenas o seguimento da doença, ou a cirurgia acompanhada, ou não, de fisioterapia.

* - M - *

Megaesófago (C + G): ocorre principalmente em cães e a sua origem costuma ser congénita. O esófado apresenta-se alargado, numa porção ou ao longo de toda a sua extensão.
  • Sinais clínicos: regurgitação da comida (ainda inteira), aumento de apetite, diminuição de peso, pneumonia secundária a falsos trajectos (tosse, ruídos respiratórios...).
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Radiografia.
  • Pode matar? Pode levar a que os alimentos não cheguem ao estômago, o que causará deficiência nutritiva que, se não for tratada, poderá levar à morte.
  • Há tratamento? O tratamento passa pela ingestão de comida húmida, de preferência, com o animal em posição vertical durante uns minutos após a refeição, assim como tratamento para pneumonia, caso esteja instalada.
  • Há cura? Não. A cirurgia resulta apenas nos casos em que o megaesófago é provocado por corpos estranhos ou tumores. Nos casos congénitos o prognóstico é pobre.
É assim que cães com megaesófago devem comer/beber (o chapéu de cozinheiro é um extra).

Miastenia gravis (C + G): doença do sistema nervoso que provoca fraqueza muscular, pode ser congénita ou adquirida:
  • Sinais clínicos: fraqueza muscular localizada (num estudo cerca de 1/4 dos animais com megaesófago tinham miastenia gravis localizada) ou generalizada (mais associada à forma congénita). 
  • Pega-se? Não.
  • Como se diagnostica? Avaliação neurológica e muscular completa, injecção de inibidores da anti-acetilcolinesterase pode dar uma pista no diagnóstico e ainda uma biópsia muscular para detecção de anticorpos.
  • Pode matar? Sim. Curiosamente a miastenia em Dachshunds tem um bom prognóstico e até pode desaparecer espontaneamente.
  • Tem tratamento?
  • Tem cura? Não.
Sabemos que é auto-imune... já não é mau!


Microftalmia (C + G): doença oftálmica congénita, onde o animal nasce com o olho mais pequeno do que o esperado. Estes olhos, dependendo de cada caso, podem ser saudáveis (visuais) ou com alterações estruturais, que tornem o olho invisual.
  • Sinais clínicos: um ou ambos os olhos do animal aparecem mais pequenos do que o normal, associados, ou não, a cegueira.
  • Como se diagnostica? Exame visual.
  • Pode matar? Não.
  • Tem tratamento? O tratamento é apenas feito com o objectivo de diminuir o desconforto do animal, caso haja.
  • Tem cura? Não.
O olho esquerdo do cão apresenta-se claramente diminuído em relação ao olho direito.

Mielopatia degenerativa (C): doença nervosa progressiva, onde a propagação do impulso nervoso se faz de forma mais lenta.

  • Sinais clínicos: descoordenação dos membros traseiros, dificuldade em levantar-se, cruzamento dos membros traseiros, dificuldade em urinar/defecar em consequência da paralisia. Com o tempo, a doença avançar em direcção à cabeça.
  • Pega-se? Não.
  • Como se diagnostica? O diagnóstico só pode ser feito após a morte, por isso os sinais clínicos são a única pista que temos para nos guiar no diagnóstico.
  • Pode matar? Sim.
  • Tem tratamento? Até agora o que tem resultado melhor para estes animais é a fisioterapia/hidroterapia, com o avançar da doença, uma cadeira de rodas adaptada ao animal será uma boa ideia.
  • Tem cura? Não.
Uma cadeira de rodas à maneira.


* - P - *


Panleucopénia (G): transmitida entre gatos bebéspor um vírus semelhante à parvovirose nos cachorros:
  • Sinais clínicos: febre, apatia, falta de apetite, vómitos, diarreia intensa...
  • Pega-se? Muito, entre gatinhos bebés, principalmente através do contacto directo.
  • Como é que se diagnostica? Geralmente os sintomas são suficientes para perceber que se trata de panleucopénia.
  • Pode matar? Ah pois pode, e é logo cerca de 80% dos doentes.
  • Há vacina? Há sim, começando-se às 6 a 8 semanas de idade.
  • Há tratamento/cura? O tratamento é... sintomático, para variar. O mais importante é manter a hidratação e temperatura do animal e, se este sobreviver à primeira semana de tratamento, geralmente safa-se. O animal recuperado pode ainda excretar o vírus durante cerca de mês e meio, pelo que se recomenda o seu isolamento até aí.
Desgraçado panleucopénico com um catéter maior que a própria pata.

Pannus (C): doença auto-imune que pode afectar as articulações ou a córnea. Caracteriza-se por um tecido vascular anormal (pano) que cobre uma destas regiões.
  • Sinais clínicos: coloração anormal da córnea, podendo levar a cegueira se não for tratada; ou dor articular, dependendo do tipo de pannus.
  • Pega-se? Não.
  • Como se diagnostica? Exame físico e oftálmico ou ortopédico.
  • Pode matar? Não.
  • Há tratamento? Sim, a nível ocular podem administrar-se corticosteróides em conjugação com imunomoduladores, assim como a nível articular, o tratamento também passará por imunomoduladores e alguns anti-inflamatórios.
  • Há cura? Não.
Mancha branca na córnea, possível indicador de pannus.

Panosteíte (C): ocorre em cães grandes em fase de crescimento, onde os ossos dos membros passam por um processo inflamatório; a causa é desconhecida:

  • Sinais clínicos: coxear intermitente que passa de membro para membro, dor na região afectada.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Exame físico e história do paciente, associado a radiografias.
  • Pode matar? Não.
  • Tem tratamento/cura? A doença é, geralmente, auto-limitante, ou seja, pode desaparecer sem tratamento nenhum, o exercício deve ser restringido. Em casos de dor podem ser receitados anti-inflamatórios não esteróides.

Neste caso, é.

Parvovirose (C): tal como a panleucopénia, é transmitido por meio de um vírus e apenas entre cachorros pequenos não vacinados:
  • Sinais clínicos: febre, apatia, falta de apetite, vómitos, diarreia intensa com sangue...
  • Pega-se? Muito, entre cachorrinhos bebés, principalmente através do contacto directo mas também muito através de fezes contaminadas. O vírus é bastante resistente no ambiente.
  • Como é que se diagnostica? Análises sanguíneas.
  • Pode matar? Cada vez mais se tem diminuído a taxa de mortalidade desta doença, com novos protocolos e controlos mais apertados. É, ainda assim, uma doença fatal.
  • Há vacinas? Felizmente sim, começando às 6 a 8 semanas de idade.
  • Há tratamento/cura? O tratamento é paliativo (ou seja, só para os sintomas) e mesmo assim alguns animais não resistem à doença.
Diarreia típica de um cão com parvovirose.


* - R - *

Raiva (C + G + O): felizmente erradicada de Portugal há décadas, é ainda uma doença importantíssima em outros países e que, apesar de pouco conhecido, é mais contagiosa entre gatos do que entre cães, contudo, os cães pelo seu estilo de vida estão mais expostos ao vírus.
  • Sinais clínicos: inicialmente dá sinais pouco específicos (febre, falta de apetite, prostração, vómitos, irritabilidade ou docilidade repentina), seguido de sinais neurológicos (convulsões, agressividade, comportamentos atípicos como a aproximação de animais selvagens a populações humanas). O termo "hidrofobia" (= medo de água) muitas vezes atribuído a esta doença não está correcto: o animal perde o reflexo de engolir água e, por isso, ao tentar ingeri-la engasga-se dando a impressão que está com aversão a esta.
  • Pega-se? Claro, e já se sabe como, principalmente pela mordida.
  • Como é que se diagnostica? Após suspeita isola-se o animal se este desenvolver os sintomas típicos da raiva é eutanasiado. O melhor método de confirmação é a recolha de amostras de tecido cerebral após a morte.
  • Pode matar? Praticamente todos os casos levam à morte do animal.
  • Há vacinas? Já se sabe que sim e é obrigatória em Portugal para os cães.
  • Há tratamento/cura? O tratamento é obrigatório e é a eutanásia.
Aproximem-se meus filhos


* - S - *

Sarna por demodex (C): o demodex é um ácaro comensal da pele, ou seja, existe em muitos dos nossos cães, mas apenas alguns, principalmente os jovens ou os imunodeprimidos, acabam por sofrer com sarna demodécica. Pensa-se que a capacidade de combater este ácaro seja transmitido de forma hereditária:

  • Sinais clínicos: perda de pêlo, ausência de comichão e pele escurecida. Muitas vezes pode evoluir para infecções secundárias da pele.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Raspados de pele com presença de ácaros associado aos sinais clínicos, ocasionalmente biópsia de pele também pode ser necessária.
  • Pode matar? Não.
  • Há tratamento/cura? Se o animal for adulto, o mais provável é ter outra doença subjacente a causar diminuição da imunidade e, consequentemente, a sarna demodécica. Em animais juvenis, o tratamento passa pela aplicação de desparasitantes específicos. Contudo, tende a recidivar cada vez que a imunidade do animal diminui.
Aspecto típico de um cão com sarna demodécica.

Shunt porto-sistémico (C + G): anomalia relacionada com a circulação sanguínea. Nesta doença, os animais possuem uma ligação (que não devia existir) entre a veia porta e a veia cava, ou seja, o sangue que devia ir pela porta para o fígado, é desviado para a cava (circulação sistémica). O sangue, que deveria ser desintoxicado no fígado, passa para os restantes órgãos. Pode ser congénito ou adquirido:
  • Sinais clínicos: dificuldades de crescimento, perda de apetite, vómitos, diarreia, baixa tolerância a fármacos, sinais neurológicos (pressionar a cabeça contra a parede, desorientação, andar em círculos...).
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? O diagnóstico pode ser feito a nível ecográfico, cirúrgico e com recurso a análises sanguíneas.
  • Pode matar? Sim.
  • Há tratamento/cura? Dependendo do caso, e da origem, o tratamento pode ser cirúrgico ou apenas com recurso a medicamentos e a uma dieta baixa em proteínas.
A: Fígado normal; B: shunt interno; C: shunt externo.

Síndrome do braquicéfalo (C + G): conjunto de alterações anatómicas que ocorrem em animais com focinho achatado (narinas mais fechadas que o normal, prolongamento do céu da boca, defeito do encerramento dos anéis da traqueia e sacos laríngeos invertidos):

  • Sinais clínicos: tosse como se estive a engasgar-se, ruídos respiratórios, desmaio aquando de excesso de exercício ou de aumento da temperatura.
  • Pega-se? Não.
  • Como é que se diagnostica? Exame físico e possível laringoscopia.
  • Pode matar? Pode sim!
  • Há tratamento/cura? A cura, muitas vezes, passa pela cirurgia, onde o diâmetro das narinas é aumentado. Animais com colapso da traqueia têm um prognóstico mais preocupante a longo prazo.
Não é não...

* - T - *

Torção gástrica (C): afecta principalmente cães de grande porte e caracteriza-se, como o próprio nome indica, pela torção  do estômago sobre si mesmo. geralmente, após as refeições (há vários graus de torção):

  • Sinais clínicos: dificuldades respiratórias, salivação excessiva, agitação, aumento abrupto do volume abdominal.
  • Como é que se diagnostica? Radiografia abdominal.
  • Pode matar? É uma emergência veterinária e o animal pode morrer no espaço de horas se não for avaliado.
  • Há tratamento/cura? A única solução é a cirurgia abdominal de urgência e remoção do baço (se este também se encontra torcido). De modo a prevenir esta doença, já se recomenda uma cirurgia que "prende" o estômago às paredes abdominais, evitando que este torça.
Diversos graus de torção de um estômago.

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